O jornal desportivo "O Jogo" publicou esta sexta-feira uma grande entrevista (página inteira) com Pedro Martins da CHELagoense, melhor atleta português da actualidade e que está na corrida para conseguir um lugar nos Jogos Olímpicos de Londres 2012. Para aqueles que não tiveram oportunidade de adquirir o jornal ou ler a entrevista linhas & Finas publica-a na integra.
Jogos são o sonho"
Começou a jogar aos 6 anos, aos 14 fazia parte da Selecção Nacional de seniores e aos 17 era o nº 1 do ranking europeu de juniores. A ascensão de Pedro Martins, campeão português de badminton, pode roçar a perfeição se ele conseguir agora, aos 21 anos, a qualificação para os Jogos Olímpicos de Londres.
"É o meu grande sonho. Requer concentração total, e estou disposto a fazer tudo para o alcançar. Sei que tenho muito para dar, para poder chegar o mais longe possível, de preferência entre os 20/30 melhores do mundo", confessa Pedro Martins. "Bato-me de igual para igual com alguns dos que estão à minha frente, mas sei que eles têm mais condições de treino e de trabalho", adianta, prometendo continuar também a aprender para daqui a dois anos atingir esse patamar.
Actualmente, ocupa o 67º lugar do ranking mundial, posição que lhe garante a presença em Londres se os Jogos fossem já agora. Como não são… "Tenho de amealhar pontos, participando em torneios, de modo que até Abril consiga manter ou superar a média", diz o jovem algarvio, de Parchal (uma vila entre Portimão e Lagoa), onde tem sede o clube que representa, o Che Lagoense, hoje por hoje a grande referência da modalidade, ostentando um considerável número de títulos nacionais. Além desta colectividade, jogou (até aos 8 anos) também no Parchalense.
Pedro frequentava ainda a escola primária quando a mãe o inscreveu no badminton, uma actividade que não tardou a ser paixão. "A prática está muito desenvolvida aqui na região, e trata-se de um desporto que alia a velocidade à força e à agilidade. Gosto dessas componentes e aos poucos fui-me aperfeiçoando. Comecei a ganhar torneios, a representar a selecção e, na altura em que cheguei a número um europeu em juniores, resolvi levar tudo ainda mais a sério, dedicar-me de corpo e alma."
No último ano de júnior era favorito no Europeu, mas não teve sorte. "Rasguei um músculo abdominal e fiquei pelos quartos-de-final", conta o campeão nacional. Já sénior, repetiu esta posição em outros campeonatos, incluindo Mundiais, e no ano prestes a findar venceu os torneios da África do Sul e de Suriname, tal como em 2010 tinha feito em Marrocos e na República Dominicana. As próximas competições serão indispensáveis para somar pontos e manter o sonho dos Jogos Olímpicos.
"Em conjunto com a federação e o Comité Olímpico, vou decidir quais as provas para participar. Em princípio, serão Challenge e International Series, as mais acessíveis num período em que toda a gente precisa de pontos e vai a todos os torneios", sublinha Pedro Martins, determinado a fazer todos os sacrifícios para carimbar o passaporte para Londres. "Os Jogos são uma coisa única", repete com um brilho nos olhos que dispensa mais palavras.
O badminton não se enquadra…"
Pedro Martins lamenta que a modalidade não tenha patrocínios susceptíveis de aumentar o leque de condições aos jogadores. "É uma pena, mas é verdade. Eu próprio estou farto de enviar cartas e e-mails nesse sentido, só que a resposta é quase sempre a mesma: o badminton não se enquadra no nosso tipo de acções." O cenário, prossegue o jovem, "estende-se a outras modalidades, onde igualmente existem valores que justificavam mais apoios". "Vai tudo para o futebol", queixa-se.
As críticas do campeão nacional não ficam por aqui. "É triste e chega, inclusive, a ser desmotivante não haver pessoas que queiram fazer bem a todo o desporto. A televisão e a comunicação social, de uma forma geral, também são culpadas", acusa, aludindo ao escasso interesse que o badminton suscita junto dos média.
A expensas próprias em muitos torneios
Pedro Martins treina cinco a seis horas diárias, divididas por duas sessões, sob a orientação de Ângelo Santos e António Pinto Leite, os seus treinadores. "É raro ter tempo para sair, porque o desgaste é enorme", assinala. Até a namorada sofre na pele estes condicionalismos. Mas os sacrifícios não ficam por aqui: "Às vezes tenho de pagar do meu próprio bolso para ir a torneios." A ajuda dos pais e do clube tem sido determinante, caso contrário "nem metade disto tinha sido conseguido". A presença no Mundial de juniores, por exemplo, foi a expensas próprias, "até porque não faria sentido o número um do ranking europeu não ir", acrescenta, lamentando os problemas económicos com que se debate a federação, cujo orçamento, mesmo em ano olímpico, fica aquém do desejado. Pedro viaja sozinho para alguns torneios, precisamente porque não há verba para a deslocação de um treinador, panorama que se estende ao quadro feminino, onde Telma Santos, a melhor portuguesa do momento, também ela do Che Lagoense - embora seja natural de Peniche -, sente idênticas dificuldades.
O céu como limite
Aos fins-de-semana, quando não está a jogar ou a treinar, Pedro Martins tem aulas de Matemática. "Quero acabar o 12º ano. Uma professora minha amiga ajuda-me imenso e perde algum do seu tempo para estar comigo", comenta, visivelmente agradecido. Este tipo de apoio estende-se também ao regime alimentar, na mesma base da amizade, com uma médica a tratar-lhe… da saúde!
"A alimentação é o mais natural possível, e evito fritos e refrigerantes. De resto, tenho massagens e suplementos, porque há semanas de treino tão intenso que até me custa a andar", graceja, rejeitando comparações com as estrelas do badminton mundial - os asiáticos dominam em larga escala - no que concerne às condições de trabalho.
Grato pelo apoio destas pessoas amigas, Pedro faz questão de frisar, porém, que não se esconde atrás de nada na prossecução dos seus objectivos. O céu, aliás, é o seu limite. "Quero chegar onde nenhum português chegou", vinca cheio de confiança.




Sem comentários:
Enviar um comentário