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terça-feira, 25 de março de 2014

"7 em Linha Directa" - Entrevista ao treinador Ricardo Fernandes

Começamos hoje uma nova rúbrica "7 em Linha Directa", um espaço de entrevista, onde iremos abordar algumas áreas dentro do badminton português. O convidado para iniciarmos esta nova aventura do "Maior Jornal de Badminton" em Portugal, é Ricardo Fernandes (R.F), actual treinador do Taby Badminton Centre na Suécia.

Ricardo Fernandes eleito em 2011 pelo Blogue Linhas & Finas/+badminton como “treinador do ano, é actualmente o treinador português mais Internacional. Depois de um ano na Dinamarca onde esteve ao serviço do BK Aalborg, e onde completou com sucesso o curso de treinador de nível 3, o madeirense rumou a Inglaterra onde permaneceu 4 anos ao serviço do Centro de Rendimento de Reading, Actualmente num novo projecto, mas com a mesma ambição, Ricardo Fernandes rumou até à Suécia onde treina o melhor clube sueco da atualidade, (Taby Badminton Centre).

 1 – Linhas & Finas/+badminton (L&F) – Depois de ter trabalhado em três das maiores potências europeias da modalidade, que principais diferenças s encontra entre elas, nomeadamente em termos das respectivas federações e desenvolvimento da modalidade?
 Ricardo Fernandes (R.F) – Tem sido verdadeiramente uma experiência fantástica e muito enriquecedora ter trabalhado na Dinamarca, Inglaterra e agora atualmente estar a trabalhar na Suécia. O Badminton nestes três Países está de fato bastante desenvolvido e é claro que existem algumas diferenças entre esses países e como é natural, também algumas semelhanças como é evidente. Em relação às semelhanças, os três países têm um bom sistema competitivo e de classificação dos jogadores permitindo que os atletas tenham a possibilidade de competir em torneios adequados ao seu nível competitivo. Os torneios acontecem quase todos os fins de semana e, por vezes, realiza-se mais que um torneio do mesmo escalão ao mesmo tempo no mesmo fim de semana em diferentes partes do País. A época competitiva inicia-se em finais de Agosto e vai até finais de Junho. As federações estão muito bem estruturadas e organizadas e usam frequentemente os meios tecnológicos ao seu dispor para facilitar a comunicação com os atletas, treinadores, pais, directores, etc. É usado praticamente em todos os torneios nacionais um programa informático, semelhante ao “tournamentsoftware” utilizado pela “Badminton Europe” e recentemente pela Federação Portuguesa de Badminton onde os calendários são publicados online com bastante antecedência e os resultados são colocados online em tempo útil. Outra semelhança é o grande número de atletas que estes países têm a praticar a modalidade, não só, em relação a jogadores federados, mas, também em relação ao comum cidadão que pratica a modalidade por gosto e por sentirem que praticar Badminton é uma óptimo meio para fazer atividade física e manter a forma. É vulgar ver-se cidadãos comuns já com uma idade mais avançada a jogar Badminton. O elevado número de praticantes deve-se também a questões culturais e como é óbvio pelo facto destes países serem países mais frios, permitindo assim, que as pessoas tenham a possibilidade de praticar desporto indoor. Outra semelhança é o conhecimento geral que as pessoas têm sobre a modalidade, principalmente, em relação ao conhecimento das regras de jogo da modalidade, o que torna o gosto pela modalidade mais fácil.

Quaisquer destes países fazem uma verdadeira aposta na formação de treinadores e nos chamados escalões de formação elaborando projectos e, ou planos de longo prazo de entre 8 a 12 anos, pois, sabem que é nestas duas áreas que uma aposta séria tem de ser feita tendo em conta o futuro da modalidade. As condições para a prática do Badminton são mesmo muito boas e existem vários pavilhões apenas para a prática da modalidade, ou seja, exclusivos para o Badminton. Existe uma boa articulação entre as escolas e os clubes e ou Associações ou mesmo federações. Há uma adequação dos horários escolares com os horários de treinos para permitir que os atletas possam treinar e estudar sem que nenhuma das partes seja prejudicada. Aliás, o Desporto Escolar nestes países está de facto muito bem desenvolvido onde existem protocolos de cooperação entre as escolas e os clubes facilitando a detecção e captação de novos jovens talentos para a modalidade. É curioso que nestes países, por vezes, quem lecciona o Badminton nas escolas são os próprios treinadores de Badminton e ou professores com formação específica de Desportos de Raquete. Alguns treinadores dão as aulas de Badminton na escola ou então coordenam as aulas dando apoio aos professores de Educação Física.
Relativamente às diferenças na Dinamarca e Suécia são os clubes que têm um papel mais determinante no desenvolvimento da modalidade e digamos mais “poder”, enquanto, que na Inglaterra são as Associações a dominar. Os dinamarqueses apostam muito num ensino de qualidade em relação aos aspectos técnicos nos escalões de formação, ou seja, a prioridade é ensinar aos jogadores a técnica correta o mais cedo possível e posteriormente focalizam um pouco mais em outros elementos ou áreas. Os ingleses e suecos apostam um pouco mais nos aspetos físicos e não aprofundam tanto os aspetos técnicos como os Dinamarqueses, embora, se verifique que estes dois países estejam a adotar um sistema de treino mais parecido com o utilizado pelos dinamarqueses. Os treinadores Dinamarqueses têm uma formação de grande qualidade e conhecimentos bem aprofundados sobre o Badminton comparativamente aos ingleses e suecos fruto de um excelente processo de formação de treinadores baseado mais no conhecimento do que na experiência, embora, o factor experiência também seja bastante importante e uma mais valia no processo de formação de um treinador. Os Dinamarqueses apostam em todas as variantes (singulares e pares), enquanto, que os ingleses têm uma maior cultura para a variante de pares em detrimento dos singulares e por isso também obtêm melhores resultados nos pares. Os Suecos também estão a adotpar uma filosofia de treino semelhante aos Dinamarqueses, mas, ao contrário dos ingleses, os suecos têm uma maior tradição nos singulares, como prova disso foi a conquista do título de vice-campeão Europeu de singulares homens por parte do Sueco Henry Hurskainen.

2 – L&F – Relativamente a Portugal, que diferenças encontra entre o que a Federação Portuguesa de Badminton tem feitos nestes últimos anos para o desenvolvimento da modalidade e o que encontrou ou encontra nos países por onde já passou?

R.F – Relativamente a esta questão eu confesso que não tenho acompanhado muito o que se tem feito na modalidade em Portugal nos últimos anos, apenas leio de vez enquanto algumas notícias, mas, tenho a sensação que parece ter ocorrido uma estagnação na modalidade nos últimos anos. É um facto de que os jogadores Portugueses têm participado ultimamente muito pouco nas competições internacionais o que é um sinal negativo, obviamente. Felizmente, que mais recentemente alguns atletas portugueses têm competido um pouco mais a nível internacional, onde até tiveram algumas boas prestações, tendo em conta todas as dificuldades que os jogadores enfrentam, nomeadamente, em relação às poucas condições de treino, entre outras situações. De qualquer das forma, não creio que o maior problema seja apenas as poucas condições de treino e constrangimentos financeiros que afecta a evolução da modalidade em Portugal. O problema é também estrutural e organizacional para além da necessidade de mudar-se de mentalidades e estratégias sendo necessário, na minha opinião, dar-se início a um plano ou projeto a longo prazo, isto é, fazer um novo trabalho de base com objetivos e estratégias bem definidas. Hoje em dia nos Países mais evoluídos já não se fala em planos a longo prazo de apenas 4 anos, mas sim de 8 e 12 anos.

É evidente que há muitas coisas que funcionam de outra forma nos países onde tenho trabalhado e por isso haverá, certamente, muitas coisas a mudar e a adaptar ao Badminton Português para que possa ocorrer um crescimento e evolução na modalidade em termos quantitativos e qualitativos no futuro. Claro que os constrangimentos financeiros e a crise que o País atravessa dificultam e muito as coisas, mas acredito que seja possível fazer mais e melhor através de outras estratégias e formas de gestão com o único objetivo de levar o Badminton Português a atingir novamente o nível de outros tempos ou mesmo um nível superior.


3 – L&F – Acha que alguma vez Portugal poderá chegar a um patamar, já não digo de uma Dinamarca, Inglaterra, Suécia,, Rússia ou Alemanha, mas a um nível como por exemplo países como Holanda, França, Turquia, Bulgária, Croácia, ou mesmo Espanha?

 R.F – É óbvio que é extremamente difícil alcançar o nível dos Países mais fortes na modalidade e já começa a tornar-se muito difícil alcançar também o nível de outros Países como por exemplo a França, Espanha, Holanda e agora também Turquia que está a evoluir muito, a Eslovénia, Croácia, Bulgária entre outros. Digamos, que Portugal está a “perder o comboio” de certa forma e a ser ultrapassado por Países que há alguns anos atrás não teriam qualquer hipótese contra nós. Confesso que apesar de já não trabalhar em Portugal há cerca de 6 anos, o facto de Portugal estar a ser ultrapassado por outros Países que outrora eram inferiores a nós, deixa-me um pouco triste evidentemente, pois, sei muito bem o quanto foi difícil e o enorme esforço que foi feito pelos jogadores da minha geração para atingir um nível digno e conquistar de certa forma o “respeito” de outros Países pelo Badminton Português no contexto internacional. Haverá certamente muito a fazer que se possa atingir um nível mais alto no panorama internacional e para que a modalidade tenha maior expressão no País.

4 – L&F – O que tem na sua opinião, de ser feito para que Portugal atinja o nível desses países que mencionei?

R.F – Haverá certamente, muitas coisas que poderão ser feitas em Portugal para que a modalidade possa crescer e atingir um nível superior. Digamos, que é necessária uma espécie de revolução na modalidade em Portugal…Como já tinha referido anteriormente, julgo, que é urgente a elaboração de um plano/projeto estratégico de longo prazo com objetivos muito bem definidos, principalmente, uma verdadeira aposta nos escalões de formação e uma melhor articulação com o desporto escolar estabelecendo protocolos de cooperação. Será importante fazer-se mais acções de formação para treinadores e professores de Educação Física, a implementação de pelo menos uma conferência ou fórum de treinadores por ano, no sentido, de serem debatidas ideias, pensamentos e estratégias, a tentativa da inclusão de pelo menos uma acção de formação para pais, para permitir a aquisição de mais conhecimentos sobre a modalidade, fazer-se mais acções de divulgação da modalidade, é preciso formar uma equipa técnica nacional bem estruturada, com a introdução do chamado “Head Coach” que deve ter uma boa formação possuindo não só bons conhecimentos técnicos ou táticos sobre a modalidade, mas, também, bons conhecimentos sobre as Ciências do Desporto. Para além de selecionador nacional o “Head Coach” deveria ter o papel de coordenador de todas as seleções nacionais, trabalhando de perto com os outros selecionadores nacionais dos escalões de formação numa perspetiva de coordenação e orientação para que se possa ter a certeza que o trabalho a ser desenvolvido esteja dentro do plano ou projecto de longo prazo traçado inicialmente.

O “Head Coach” deverá ser também o elo de ligação com a direcção da federação e uma espécie de gestor do departamento técnico da federação. É preciso uma visão de futuro e uma abertura por parte de todos os envolvidos na modalidade em Portugal, para que possa acontecer uma verdadeira mudança de mentalidades a bem do futuro da modalidade. Tem de ser um esforço de todos, pois, o que está em questão não é o futuro de A, B ou C, mas, sim o futuro da modalidade em Portugal. É preciso novas ideias, outras formas gestão, outra visão, outro plano e outras estratégias. É preciso saber de onde partir, saber qual o caminho a percorrer e qual é a meta a atingir… Nem tudo está mal na modalidade e por isso há que aproveitar o que de bom se tem feito alterando, adicionando ou adaptando novos conceitos, estratégias, objetivos que são muito necessários para que a modalidade cresça e se desenvolva com a ambição de se atingir um nível mais elevado no Badminton Português.

5 – L&F – O Ricardo está imigrado à 6 épocas consecutivas. Tem sido fácil gerir a distância e as ausências prolongadas longe da sua família?

R.F – É óbvio que não é fácil ser imigrante e estar a viver há já 6 anos longe do meu País, família e amigos. Esse é o preço a pagar quando se aposta neste tipo de “aventuras” no estrangeiro. É sempre um risco a correr, mas, felizmente tenho sido muito bem-sucedido e, nesse sentido, sinto-me realizado profissionalmente. A distância é sempre uma “barreira” difícil de ultrapassar, mas, esse obstáculo tem sido um pouco compensado pelo facto de estar a trabalhar com atletas de alto nível inserido num contexto muito profissional e com objetivos aliciantes em que sempre ambicionei trabalhar. O grau de exigência do projecto em que estou atualmente a trabalhar é bastante elevado e de muita responsabilidade e, por isso mesmo, sinto-me de certa forma um pouco compensado pelo facto de estar longe do meu País. A verdade é que desde que vim para o estrangeiro trabalhar como treinador profissional me tenho sentido sempre muito valorizado e apoiado em qualquer dos Países que tenho trabalhado de tal formal, que até foi mesmo muito complicado trocar a Inglaterra pela Suécia no início desta época. O meu contrato aqui na Suécia é de 2 anos, mas o clube/centro já manifestou o interesse em o prolongar o meu contrato para 4 anos, o que é, sem qualquer dúvida, muito positivo e motivador para mim. No entanto, embora eu esteja a trabalhar no presente a pensar no futuro, eu apenas me quero concentrar para já, naquilo que estou a fazer e logo depois verei como será em relação ao meu futuro.

6 – L&F - Projectos futuros? Tenciona realizar mais alguns estágios Internacionais com atletas portugueses, em Portugal ou no estrangeiro? É possível adiantar já algumas novidades?

R.F – Nesta altura estou a trabalhar na organização de um estágio internacional para se realizado neste verão em Portugal. Ainda não poderei adiantar mais nada para além disto, mas, em breve, certamente, haverá mais novidades em relação a esta matéria.

7 – L&F - Está nos seus horizontes um regresso para breve a Portugal, para ser principal treinador de um clube português ou mesmo seleccionador nacional?

R.F – Desde que vim para o estrangeiro trabalhar em Agosto de 2008, eu nunca recebi nenhuma proposta séria para voltar a Portugal para trabalhar num projecto, clube ou Federação. No entanto, e muito sinceramente, eu nem sequer tenho pensado nessa hipótese. Eu sinto-me muito feliz com o meu atual trabalho aqui na Suécia. É claro que não posso dizer que essa possibilidade está completamente fora de questão como treinador profissional, mas, isso não me tem passado pela cabeça. A verdade é que nunca se proporcionou eu trabalhar para a Federação Portuguesa de Badminton. Numa determinada altura da minha carreira até estaria disponível para tal função, mas, isso nunca aconteceu e com o passar do tempo e com a oportunidade de trabalhar no estrangeiro num alto nível, deixei de ter esse desejo e hoje em dia posso dizer que nem sequer tenho pensado nessa possibilidade. Obviamente, que se houvesse uma proposta séria para o meu regresso a Portugal para trabalhar num projecto credível de longo prazo eu não iria excluir essa hipótese, pois, como Português que sou, não iria colocar completamente de parte ajudar a modalidade a crescer e evoluir no meu próprio País. Aliás, apesar de estar a viver há 6 anos fora de Portugal eu tenho realizado alguns estágios internacionais em Portugal, mas, como é óbvio esses estágios são só uma pequena ajuda, pois, ocorrem num curto espaço de tempo e basicamente apenas uma vez por ano. No entanto, neste momento, estou apenas concentrado no trabalho que estou a desenvolver aqui na Suécia ajudando os suecos a melhorarem o seu nível e a alcançarem os seus objetivos. Sinto-me muito satisfeito e feliz com o valor que atribuem ao meu trabalho desenvolvido aqui na Suécia e todo o apoio e carinho que tenho recebido constantemente.

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