Jorge Azevedo, engenheiro, natural do Porto, com 48 anos de idade, foi eleito como Presidente da Direcção da Associação de Badminton do Norte de 2011 a 2013. É praticante do badminton dos 16 até aos 30 anos e dos 41 aos 48 anos, sendo filiado pela primeira vez, na FPB na época desportiva de 1978 / 79, em representação do Estrela e Vigorosa Sport. Centro Desportivo Universitário do Porto, Centro Desportivo de Espinho e a Associação Académica de Espinho, foram os outros clubes que representou. Ensina badminton na FDCEF / Porto e integra o projecto dos Fãs do Badminton da Escola Soares dos Reis / Vila Nova de Gaia, mantendo ainda em actividade, na cidade do Porto, um Centro de Badminton.
Entrevista conduzida por Fernando Gouveia (FG) a Jorge Azevedo (JA).
FG - Para a época desportiva de 2012 / 2013, quais os objectivos da ABN?
Entrevista conduzida por Fernando Gouveia (FG) a Jorge Azevedo (JA).
JA - Serão o de criar etapas intermédias de competição para dar opções ao Circuito Nacional da FPB.
FG - Qual o grande objectivo que a ABN gostaria de alcançar?
JA -Gostaríamos de captar uma boa percentagem dos praticantes escolares existentes para o seio da associação e das suas iniciativas. São milhares de praticantes que aguardam essa aproximação!
FG - Com tantas dificuldades em captar jovens para o desporto, como a ABN poderá atenuar esta situação?
JA - Neste momento não se trata de captar jovens para este desporto porque já há imensos, mas sim de tratar dos que existem e do que lhes podemos oferecer numa competição regional. Só isso poderá servir de motivação para agarrarem esta modalidade e se posicionarem numa das fases do panorama nacional da modalidade. Neste momento só existem dois degraus no badminton que são o desporto escolar e depois o circuito federado de topo.
No meio existe o programa dos Torneios de Divulgação que ainda não está a ser rentabilizado como deve ser.
Urge dar a esta forma de transição entre os Desporto Escolar e o Federado, uma maior dinâmica, para captar todos aqueles que não têm estruturas para atingirem um nível mais alto.
Este será um dos temas a tratar com especial atenção na próxima época pela ABN.
Também se vai assistindo à desistência de muitos atletas de qualidade, simplesmente porque o circuito nacional não está ao seu alcance e não existem alternativas no escalão sénior que prendam o interesse deles.
FG - Com um intercâmbio, bem trabalhado com as escolas, será possível apresentar uma imagem diferente, para o desenvolvimento do badminton?
JA - O badminton tem um estigma bem enraizado de que se trata de um jogo de meninas e que é aprendido de forma natural sem ser necessária a intervenção dos professores na aprendizagem técnica!
Perante esta onda que percorre as escolas nacionais só um tratamento tópico e local, poderá alterar esta situação. As Acções de Formação são positivas mas não atingem o alvo.
Tenho encontrado imensos casos de falta de conhecimentos técnicos por parte dos responsáveis pelos Núcleos Escolares de Badminton que se torna preocupante.
Também já encontrei aulas de Educação Física dedicadas a este desporto que os alunos simplesmente fazem jogos e metade da turma assiste, esperando vez para fazer um jogo.
Tudo isto se rebate com proximidade, fazendo acções de formação simplificadas, mais ou menos informais, de forma a abranger o maior número possivel de Núcleos de Badminton.
Estou a adoptar esta atitude, tendo já visitado cerca de 8 Núcleos Escolares de forma a alertar para a exigência técnica desta modalidade. A receptividade tem sido excelente e nos Torneios de Divulgação tenho já constatado alguns resultados positivos, que me dizem que o caminho não está errado.
Estas deficiências técnicas criam um fosso enorme entre o Desporto Escolar e o Federado, que impede o sonho competitivo, à maior parte dos jovens. Acaba por ser uma das poucas modalidades onde isto acontece com mais destaque, daí a fraca adesão dos praticantes ao patamar seguinte.
FG - Para quando um Torneio Luso-Espanhol organizado pela ABN?
JA - Um torneio internacional surgirá naturalmente, quando os associados resolverem todas as questões mais urgentes e determinantes para o sucesso e crescimento do número de clubes e praticantes. Nesta altura o que há a fazer é garantir a continuidade dos já existentes. Contactos internacionais irão surgir com naturalidade e em moldes inovadores! Se calhar com um Portugal / Dinamarca, quem sabe?
Neste momento todas as semanas têm aparecido atletas franceses, indianos, dinamarqueses e ingleses, residentes na área do Porto no Centro de Badminton, o que tem possibilitado alguns contactos internacionais.
FG - Com apenas 7 clubes filiados na ABN está muito limitada, em termos de dimensão competitiva. O que deverá ser efectuado para ultrapassar esta situação?
JA - Neste momento não faltam núcleos desportivos escolares de badminton, dinâmicos, descentralizados das zonas onde já existem clubes, que querem crescer e progredir. Terão de ser apoiados pela ABN o mais possível e aproveitados para o espaço federado. Agora quando estes me perguntam se valerá a pena darem o passo para serem federados, a resposta é muito limitada. Para quê? e que agravamento de custos terão? Se a maior parte dos clubes actuais estão em dificuldades, o que é que poderão esperar os novos que querem dar esse passo?
Passará por se dizer que ao ser federado ficam com o clube registado na FPB e podem ter acesso às provas da FPB nas Caldas da Rainha.
No entanto serão obrigados a ter uma estrutura regulamentada, treinador registado, jogar com volantes de penas, pagar inscrições, deslocações e estadias.... e em troca?...
FG - Como avalia no geral o badminton nortenho?
JA - Está a viver o dia a dia à espera de soluções novas. Devido aos anúncios da crise e dos cortes orçamentais, tornou-se dificil de conseguir apoios junto das escolas e de entidades privadas, porque estas também estão a efectuar reduções. Quando passar este ano e a estabilidade regressar, poder-se-á voltar a propor novas iniciativas para as quais as portas não se fecharão com tanta facilidade. Neste momento só o desporto escolar funciona e tem algumas verbas oficiais para se mexer.
FG - Que mudanças positivas deveriam ser efectuadas no desporto escolar e em particular no Badminton?
JA - O fosso técnico entre o desporto escolar de raiz e o desporto federado é enorme, cortando o sonho e o acesso a todos os que nele andam sem bases técnicas. Isto tem de mudar para que o sonho permita a transposição para a realidade sem grandes sobressaltos. Ou então criar uma estrutura organizativa intermédia, de custos menores, para permitir uma evolução mais gradual.
FG - Conhecendo-se a necessidade de formação técnica dos professores, o que deveria ser efectuado, para ultrapassar esta situação?
JA - Ao nível da formação universitária já está a ser feito mas, falta actuar na geração de professores colocados nas escolas, e para o qual essa mudança não surte efeito. Nestes casos só uma formação próxima poderá fazer mudanças, a começar pela actuação junto dos responsáveis pelos núcleos de desporto escolar de badminton.
FG - Paralelamente com a formação de jovens jogadores, concorda ou não, também com formação noutras áreas como a arbitragem ou até o dirigismo?
JA - Principalmente no dirigismo..... esta área está fortemente deficitária e limita o nascimento de novos clubes. Será que com uma gestão mais especializada não se ganharia organizações de eventos mais profissionais e clubes mais estáveis?
Realizar eventos amadores estamos nós habituados, mas será que não estamos a perder oportunidades mais rentáveis, simplesmente porque não temos bases de conhecimentos suficientes?
Um torneio pode ser um negócio como os espectáculos o são. Agora os investimentos passsariam a ser maiores e mais arriscados.
FG - Os actuais modelos competitivos implementados pela FPB têm provocado opiniões contraditórias. Deveriam ou não ser efectuadas algumas alterações, para que o Badminton Nacional não retrocedesse, ainda mais?
JA - As mudanças da competição sénior ficaram a meio do caminho na minha opinião. Quando eu falava num ranking nacional único, falava também na separação do ranking por 4 provas ou escalões, e não em 2 como está actualmente. Haveriam na mesma as 4 provas que haviam antigamente, mas com um escalonamento dos jogadores dinâmico sem escalões fixos no inicio da época. Neste momento para os jogadores das antigas categorias B e C só lhes restam competir e fazer número nas provas...
FG - O caminho para uma desejada “pirâmide”, em que os atletas dos escalões jovens, deveriam ser a grande “aposta”, deixa algumas perspectivas para o futuro da modalidade em Portugal?
JA - Se o fosso técnico entre o desporto escolar e o federado diminuir, será possivel estruturar e ligar melhor as várias etapas da modalidade.
FG - Vale a pena estudar e alimentar o sonho de ser um atleta de elite em Portugal, atendendo às dificuldades financeiras, logísticas, físicas, entre outras?
JA - Esse sonho depende de muitos factores exteriores ao jovem dotado. A um campeão não chega só ter jeito, necessita de apoio familiar, apoio financeiro, e de um clube que o acompanhe nesse projecto dispendioso. Só com todos estes factores a funcionarem em conjugação é que poder-se-á discutir se o jovem tem futuro ou não como atleta de elite. Prefiro pensar que estes casos não são fabricados mas que aparecem e têm de ser acarinhados. Nesta como noutras modalidades, quando um jovem chega à fase de ser notado, já passou por um investimento enorme por parte da família e do clube.
FG - Perante a grave instabilidade económica e social, como será o futuro da modalidade em Portugal?
JA - Vai recuar muito em termos de qualidade e de condições postas à disposição dos atletas. Estando a FPB limitada nas suas acções, os agentes desportivos têm de se virar regionalmente para a criação de eventos de baixo custo, que mantenham a adesão competitiva.
FG - Com tantas dificuldades em conseguirem-se elementos disponíveis, qual a sua opinião para se constituir uma lista candidata às próximas eleições federativas?
FG - Com tantas dificuldades em conseguirem-se elementos disponíveis, qual a sua opinião para se constituir uma lista candidata às próximas eleições federativas?
JA - Elementos disponiveis para fazer avançar o Badminton existem, mas não nos moldes actuais em que a modalidade vai andando.
Recuando 15 anos, a FPB tinha como encargos uma sala num andar, na Rua Arco do Cego, em Lisboa donde tudo era coordenado e onde as iniciativas descentralizadas eram a política seguida. Actualmente o volume de despesa da FPB é muito superior, impondo uma diminuição de iniciativas alternativas, que promovam a descentralização da modalidade.
Tudo se passa num local e o resto aguarda que alguma mudança ocorra. Aqui as Associações também precisam de se dinamizar e tratar da sua vida.
Toda a modalidade cultiva um exagerado estatuto “amador e carente”, bloqueando a criação de mudanças.
1 comentário:
Uma pequena rectificação.
A Associação de Badminton do Norte - ABN, tem oito (8) Clubes filiados e não 7, como o Jorge Azevedo e o Prof. Gouveia referem.
Cumprimentos,
José Manuel Almeida
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