Acesas discussões têm surgido, ultimamente, nos espaços de discussão da Internet da nossa modalidade, em torno do tema Assembleia Geral e dos votos que X e Y têm direito. É salutar que se discutam estes assuntos nem que seja para manter informado o praticante comum, e clarificar as leis pelas quais a sua prática é regulamentada. No entanto, parece-me desajustada a importância que lhe é atribuída, pois qualquer que seja a distribuição ou o número de votos, as pessoas que assumirão o poder serão sensivelmente as mesmas, com ligeiros "retoques" aqui e ali. A modalidade é demasiado pequena e as pessoas disponíveis para desempenharem cargos de responsabilidade são poucas e ainda menos as que estão disponíveis e têm competência para o fazer. Para além disso, a nossa pequenez favorece os interesses instalados, razão pela qual quem tem o poder não abdicará dele. Desta forma, parece-me que, passada mais uma Assembleia Geral, mudarão algumas caras mas permanecerá tudo na mesma. Não vale a pena “chover no molhado”.
Queria desviar a discussão para um assunto que me inquieta e parece bem mais importante, relacionado com o desenvolvimento da modalidade, nomeadamente com o reduzido número de atletas, da consequente falta de nível competitivo e fracos resultados internacionais (apenas escamoteados pela obtenção de resultados esporádicos fruto de apostas particulares), principalmente das Selecções Nacionais.
Sempre defendi que o Sistema Competitivo é o principal instrumento à disposição da FPB, que promove a captação de novos praticantes para a modalidade e que dê resposta aos interesses de todos os tipos de atletas, para que a prática da modalidade seja prazerosa e estimulante para todos. Como é óbvio, mantêm-se a jogar, aqueles que retiram prazer dos estímulos que lhes são dados.
Apreciei a decisão da FPB em avançar para a divisão territorial por zonas. Foi um passo decisivo rumo ao desenvolvimento da modalidade. No entanto, a actual implementação do Sistema Competitivo de Não Seniores, cheio de cedências à esquerda e à direita para proteger os interesses de alguns, veio-se a revelar um equívoco.
É facto que com o actual sistema, se evitam os excessos de inscrições nos torneios nacionais, provocando a necessidade de competição em vários pavilhões, mas que mais-valias vai a modalidade retirar deste modelo?
Os atletas menos cotados têm oportunidade de jogar mais vezes? Não! Há mais atletas interessados em jogar Torneios Zonais? Não me parece. Os quadros competitivos foram construídos a pensar nos melhores jogadores. Os outros foram esquecidos.
Um exemplo ilustrativo é os quadros de eliminação à primeira derrota, quando existe um determinado número de inscrições.
Uma criança pode fazer uma viagem de mais de 100km, para actuar em apenas uma partida de singulares (porque, incompreensivelmente, só existem apuramentos em provas de singulares) e passe o resto do dia sem puder jogar. Esta situação de certeza que não é estimulante, e uma criança que passe por ela, apesar de talvez gostar do passeio, nada ganhou com a competição.
Isto leva-me a pensar qual a razão que tornou os Torneios de Divulgação, das acções da FPB com maior sucesso na "divulgação" do Badminton.
As diferenças para os Torneios Zonais são enormes:
- As crianças participam em mais jogos com diferentes adversários (mesmo que às vezes se recorra a pontuações reduzidas, no total, os miúdos jogam mais tempo)
- O ambiente é mais informal (de confraternização e fair-play) e sem obsessão pela vitória, que proporciona maior diversão aos atletas
- Para além disto, estes torneios possibilitaram a aproximação necessária ao Desporto Escolar
Se temos esta receita de sucesso, porque não realizar os Torneios Zonais nos mesmos moldes dos Torneios de Divulgação?
Se analisarmos bem, os Torneios de Divulgação são competições zonais de um dia, sem 2 ou 3 atletas federados por escalão em cada zona (os atletas que têm o asterisco devido à sua classificação no ranking nacional), mas com a participação de um grande número de atletas dos Núcleos de Badminton Escolar. Porque não regulamentar um pouco melhor os Torneios de Divulgação e aproveitá-los para fazer a fase de apuramento zonal (seriam fins de semana poupados em tempo e dinheiro).
Se as inscrições se tornarem demasiadas, porque não criar um sistema de cotas por clube (como já fazem em algumas zonas), de acordo com o número de atletas federados (ou outro critério estipulado), estimulando a competição interna dos clubes? Se as partidas são muitas, porque não adaptar e fazer jogos de pontuações reduzidas? E não estarão as exigências da competição desajustadas às necessidades dos atletas nos diferentes escalões? Porque não reduzir o tamanho do campo nos miúdos sub - 11?
Terão eles as mesmas capacidades (físicas e cognitivas) para jogar um jogo formal como um sénior? Faz igualmente sentido haver competição nacional formal até sub - 13? Estarão estas crianças suficientemente preparadas e maduras para lidar com ansiedades e pressões inerentes a um sistema que exige o resultado?
E qual a vantagem da selecção Nacional sub - 13, senão única e exclusivamente alimentar o ego dos treinadores e clubes? Só exige das crianças um compromisso ao treino enorme e exclusivo numa idade em que elas deviam era experimentar ao máximo outras actividades de forma a melhorar a sua literacia motora.
Também nos seniores surgem muitas questões relativamente ao sistema competitivo. Não fará mais sentido inverter os quadros competitivos, proporcionando competição em poule para as categorias de recreação (C e D's) e competição a eliminar nas categorias mais viradas para a competição (Elites e B's)?
Não serviria de estímulo ao treino (principalmente dos pares) a implementação de uma liga de clubes? Não estará o actual sistema pensado em demasia para os atletas em competição internacional (com poucos torneios nacionais para não colidirem com os torneios internacionais)? E o número de competições ao longo do ano é adequado às necessidades dos atletas seniores (o número de torneios é igual ao de um atleta não sénior)? O jogador português terá o ritmo competitivo adequado, quando decide aventurar-se no circuito internacional?
A realidade tem as respostas para todas estas questões. Basta saber observá-la e retirar dela as soluções. Seremos nós assim tão diferentes dos outros países? Porque será que uns conseguem e outros não? Seremos nós que temos azar?
Os países mais desenvolvidos são exemplos que devem ser seguidos (se o objectivo for evoluir). Dinamarca, Inglaterra, França, Alemanha, Espanha, diferenciam-se dos restantes pela sua Organização. Basta dar uma olhadela para ver o que se passa por lá.
Muitos partilham opiniões semelhantes às minhas. Alguns até sentirão a mesma inquietação que eu. Mas na minha opinião, poucos desejam realmente o desenvolvimento da modalidade, pois a maioria de nós somos adversos a alterações da nossa normalidade. O CAR não vai resolver estes problemas. E a criação e o desenvolvimento de um projecto a médio / longo prazo provocaria muitas alterações nos hábitos e rotinas de todos nós, coisa para a qual não sei se estamos preparados… Pois é, não há únicos culpados!
PS. Só uma palavra para o novo CAR. Óptimo pavilhão, com excelentes condições para a prática de Badminton e outras modalidades. Só espero que seja utilizado regularmente e que as suas despesas correntes não hipotequem a evolução de mais uma geração de jogadores, tal como o fez a construção da sede da FPB. A modalidade pode não sobreviver.
Nuno Santos
Artigo de autoria do Prof. Nuno Santos para o Blog "O Badmintonista"
2 comentários:
Apoiado... Só mais um detalhe, porque é que as categorias seniores existem? Com os sistemas informaticos e reultados online actuais,não é possivel agrupar os atletas todos num ranking unico nacional? A partir daí os 16 primeiros jogavam em elites dos 16 aos 32 em bs e daí por diante. Termos 3 atletas madeirenses a virem jogar um torneio no continente, e jogarem as tres entre elas, como fazem nos treinos diariamente?... Os atletas continentais desperdiçaram uma hipotese de contacto em jogo com essas atletas. E que motivação dará a essas atletas de competirem no circuito nacional? Estou mesmo a ver no aeroporto... vamos lá ao continente passear e fazer mais uns jogos entre nós... deve ser desmotivante para qualquer atleta.
É um artigo sem a preparação e o conhecimento necessário, para as afirmaçoes tão desasjustadas da verdade.
"Faz igualmente sentido haver competição nacional formal até sub - 13? Estarão estas crianças suficientemente preparadas e maduras para lidar com ansiedades e pressões inerentes a um sistema que exige o resultado?" (prof. Nuno Santos)
Caro prof., já analisou o historial da formação dos atletas Portugueses, que, ao longo dos tempos, atingiram grandes resultados Nacionais el Internacionais...uma pesquisa que eu recomendo.
"E qual a vantagem da selecção Nacional sub - 13, senão única e exclusivamente alimentar o ego dos treinadores e clubes? Só exige das crianças um compromisso ao treino enorme e exclusivo numa idade em que elas deviam era experimentar ao máximo outras actividades de forma a melhorar a sua literacia motora."(prof Nuno Santos)
Caro prof., em primeiro lugar, que deselegancia com pessoas, clubes e colegas seus, que, se dedicam unicamente à modalidade por paixão, como é o seu caso..., em segundo, como pode então criticar, ou classificar de particulares e esporáticos (na sua opinião) os resultados dos nossos seniores, se não reconhece a vantagem e importancia do escalão sub 13, num trajecto de alto rendimento...
"Os países mais desenvolvidos são exemplos que devem ser seguidos (se o objectivo for evoluir). Dinamarca, Inglaterra, França, Alemanha, Espanha, diferenciam-se dos restantes pela sua Organização. Basta dar uma olhadela para ver o que se passa por lá." (prof. Nuno Santos)
Caro prof, isso sim, é uma grande verdade... e recomendo!, deixe a competição Internacional e vá dar uma olhadela aos projectos de formação nos países que acima menciona, essa alteração de estratégia à sua carreira na modalidade, vinha, num futuro próximo, trazer muitos mais benecificos à nossa modalidade.
Duarte Anjo
in "Facebook Linhas&Finas"
Enviar um comentário