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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Entrevista a Ricardo Silva (Clube Albergaria) pelo Prof. Fernando Gouveia

O nosso amigo e colaborador Prof. Fernando Gouveia elaborou uma grande entrevista a Ricardo Silva, atleta do Clube Albergaria que passamos aqui neste blogue, agora que está a terminar o tempo de defeso do Badminton.

Ricardo Silva, natural da freguesia da Glória / Aveiro e residente desde sempre em Cacia / Aveiro. Licenciado em Desporto e Educação Física pela Universidade do Porto, leccionou em 2013 / 2014 nas Actividades de Enriquecimento Curricular do 1º ciclo no Agrupamento de Escolas de Vagos. Actual jogador no Clube de Albergaria foi enquanto, não sénior um valioso e distinto badmintonista tendo conquistado muitos Campeonatos Nacionais Individuais e por Equipas representando, o Clube do Povo de Esgueira, Casa do Povo de Esgueira, a Casa do Benfica em Aveiro e o Badminton Clube de Aveiro.
De destacar que Ricardo Silva, com o seu colega e amigo Miguel Almeida, nunca em Portugal perderam, em Pares Homens, nos diversos escalões de não seniores. Os aveirenses, em percurso para a Alta-Competição, participaram em diversos estágios e torneios a nível internacional. Ricardo Silva participou, entre outras provas, no Torneio Internacional de Lausanne / Suíça por cinco vezes, em representação da Selecção Nacional (Sub-15 aos Sub-19), no Delyn Internacional Badminton (País de Gales), no Campeonato da Europa / Sub-17 de Equipas Mistas disputado, em Istambul / Turquia, com a participação de 21 países tendo a Selecção Nacional alcançado, um excelente sexto lugar e no Campeonato da Europa / Sub-19 disputado em Helsínquia / Finlândia, onde a Selecção Nacional alcançou o 7º lugar, melhor resultado até então.


Prof. Gouveia – Sendo o badminton uma modalidade sem protagonismo em Portugal e também tecnicamente muito difícil, porquê o aparecimento como atleta, havendo tantas outras modalidades com outra dimensão e visibilidade?Ricardo Silva – Foi praticamente um acaso, mas a primeira modalidade que experimentei de forma organizada e deve ter sido amor à primeira vista. Na altura provavelmente nem me apercebi disso, mas a complexidade e “totalidade” foi o que me cativou. Depois de um ano ou dois, como jogador federado cheguei a ser convidado para praticar futebol, mas a minha opção estava tomada.
FG – Os clubes de grande dimensão popular no nosso país, como é o caso do Sport Lisboa e Benfica, que tem forte poder de “marketing” se criassem secções de badminton, seria uma mais-valia importante para a modalidade?RS – Poucos são os atletas no país que não têm de pagar, para além da mensalidade, os seus equipamentos, as suas raquetes, os seus encordoamentos ou mesmo as suas deslocações, dormidas e refeições nos diversos torneios que participam ao longo da época. Não tenho dúvidas, que se os chamados “três grandes” fizessem uma aposta na modalidade, a visibilidade seria outra totalmente diferente. Consequentemente, mais fácil seria angariar apoios para os atletas que representassem esses clubes, como para todos os outros, uma vez que mais gente conheceria este belo desporto.

FG - O Badminton é uma modalidade de cariz popular a nível universal, como por exemplo na Suécia que tem enorme implantação, até como modalidade para ocupação utilíssima dos tempos livres, podendo-se dizer que a maior parte dos cidadãos tem a sua raqueta e semanalmente, sobretudo nos fins-de-semana lhe dedicam grande interesse. De resto na Alemanha, Dinamarca, Inglaterra, mesmo nos Estados Unidos, Canadá e nos países asiáticos, o Badminton é popularíssimo. Porque em Portugal nunca atingiu essa popularidade?RS – Quero acreditar, ainda que muito lentamente, as mentalidades vão mudando. Mas neste país vivemos numa “futebolcracia”. Tudo o que não seja jogado com uma bola e com os pés, ainda passa ao lado da grande massa da população portuguesa. Somos uma sociedade muito inculta, no que ao desporto e actividade física diz respeito e isso é fácil de constatar pela percentagem de população, que pratica desporto de forma regular. Mas depois toda a gente se espanta como países, com dimensão menor ou igual à nossa obtêm resultados muito mais relevantes.

FG - Por vezes cria-se a ideia de que esta modalidade é “para senhoras” ou pouco consentânea com um retrógrado de virilidade do “homem de barba dura”. Isso é um erro, mas deixamos ao nosso entrevistado a explicação devida?
RS - Essa expressão é tão absurda que nem sei por onde começar. Aquilo que mais depressa me ocorre é convidar, essas pessoas a irem experimentar um treino. Só um treino. Depois, se conseguirem largar o vício, cá estarei para dar o braço a torcer. Agora mais a sério, penso que tem a ver com a tal questão de mentalidade. Muitas pessoas associam o Badminton à praia, mas não sei se há local mais desapropriado que a praia para jogar Badminton. Contrariamente àquela que julgo ser a opinião generalizada da população portuguesa, o Badminton é dos desportos mais completos e complexos que existem. Se pensarmos, nas diversas componentes da forma desportiva (técnica, táctica, física e psicológica), todas elas estão presentes em doses massivas. Mas falando apenas na questão dos “homens de barba rija”, focando apenas na componente física do jogo, continua a ser dos deportos mais complexos e completos que existem. Para jogar têm de ser resistentes, muito fortes ao nível do trem superior e inferior, rápido e explosivo, equilibrado, ágil e coordenado. Trabalhar estes pontos pode não ser fácil e conjugá-los todos, para que quando se desenvolve um, não estragar o trabalho que que foi realizado, com os outros é de grande complexidade. Se pensarmos, que depois ainda se tem de juntar a componente psicológica, que também se treina e as componentes técnica e táctica e as suas diversas vertentes chegamos à conclusão, que efectivamente é complexo e não é para todos. Mas como disse, é aparecerem e experimentarem um treininho, só um.
FG – Como e quando começou a praticar Badminton?
RS – Desde pequeno que sempre gostei de praticar diversas actividades desportivas com familiares e amigos, mas nunca procurei uma prática formal de desporto. No 6º ano de escolaridade surgiu o convite, para experimentar um treino, no Núcleo de Badminton da Escola Aires Barbos, em Esgueira. Os treinos decorriam, no Ginásio do CIFOP na Universidade de Aveiro, à 6ª-feira ao final da tarde. Fui, gostei e fiquei. Devia ter algum jeito pois, no final desse ano, juntamente com outros colegas, fui convidado a integrar a equipa federada do Clube de Povo de Esgueira e a partir daí não havia volta a dar.

FG - Sua família apoiou essa decisão?
RS – Sempre. Felizmente tiveram possibilidades de me ajudar e também, aos meus irmãos, a praticar a modalidade que abracei. Tenho a perfeita noção do grande esforço que fizeram. Nunca me faltou nada e sem o seu apoio, nunca poderia ter conseguido o que atingi. Aliás, sem o seu apoio penso que não poderia ter optado por esta modalidade.

FG - Para se conseguir desenvolver uma eficaz formação e cultura desportiva e criarem-se condições para um desporto organizado, que sirva a grande maioria da população juvenil, o que deveria ser feito?RS – A resposta não é simples, rápida e directa. É uma luta desigual contra o apelo das tecnologias. É urgente voltar a atrair as crianças e jovens para a prática desportiva, até por uma questão de saúde pública e luta contra a obesidade. Para isso, antes de pensarmos em desporto organizado é preciso criar espaços apelativos, para que os jovens e crianças venham de novo para a “rua” brincar ao desporto. Não foi o único factor, mas a febre do betão e da construção em altura, a construção visando o lucro máximo, esqueceu-se de criar os tais espaços, para a prática informal de actividade física. Quase que diria que deveria ser obrigatório, um polidesportivo em cada bairro. Eu pergunto: se não conseguimos atrair gente para a prática informal, como o vamos fazer para a prática formal e organizada, que é bastante mais exigente? Mas isto é só o início de uma longa discussão. Por exemplo, e saltando algumas etapas, como pode uma capital de distrito não ter um Pavilhão Desportivo Municipal?

FG - Atendendo à política social e económica do país, onde a educação está longe de atingir níveis de alta qualidade vê alguma possibilidade do desporto, nomeadamente o competitivo ajudar os jovens, a cumprir determinadas regras comportamentais?
RS – Sem dúvida. O desporto é uma escola de valores, é uma escola de vida. Quando devidamente orientado, o desporto transmite e desenvolve características e qualidades nos jovens que são uma mais-valia para o seu dia-a-dia, seja enquanto estudantes ou, futuramente, enquanto profissionais de uma qualquer área. Com a prática desportiva de competição, os jovens aprendem que para ter sucesso é preciso ser-se focado, ter objectivos definidos, é necessária superação pessoal, muito trabalho e muita disciplina. Aprender a ser persistente e a não desistir à primeira dificuldade é uma característica fundamental nos dias de hoje.

FG – Para uma tão pouca competição internacional e um número baixo de jogadores filiados justifica-se a existência do Centro de Alto Rendimento em Caldas da Rainha, com espaços devidamente apetrechados e exclusivos?RS – O Centro de Alto Rendimento (CAR) é, ou deveria ser, uma mais-valia para o país e para a modalidade. Mas, no meu entendimento, um CAR não pode resumir-se a ser um pavilhão onde existem duas competições por mês. Para o ser verdadeiramente, um CAR deveria contemplar um regime de internato, onde se concentrariam os melhores jovens do país, para treinarem de forma continuada. Ao mesmo tempo teria de haver, uma coordenação com as escolas circundantes para conjugar horários escolares, com horários de treinos e competições. E basta olharmos, para a vizinha Espanha e observarmos, que este modelo funciona efectivamente. Aliás, existem não só Centros Nacionais, como Centros Regionais. Tudo isto funcionaria numa lógica de maximizar resultados desportivos e de rentabilizar o espaço ao máximo. E aí muito provavelmente teria lógica partilhar, o CAR com outra ou outras modalidades. Provavelmente existem razões, desconhecidas, que não permitem esta rentabilização de uma infraestrutura, como o CAR de Badminton. E no caso da nossa modalidade existe ainda, do meu ponto de vista, o problema da localização: um CAR tem de estar localizado perto de uma grande universidade e assim ajudar, a evitar que muitos dos nossos talentos se percam na transição de juniores para seniores.

FG - Comparativamente com países europeus de grande dimensão competitiva, Portugal tem ainda um número muito reduzido de atletas federados. Qual será a solução, para que haja uma substancial adesão de novos praticantes?RS – Como disse anteriormente, a longo prazo o primeiro passo deveria ser a massificação da prática desportiva regular, mas falando sobre a situação actual do desporto nacional penso que a solução passaria por duas grandes vertentes. Por um lado, a realização de campanhas de marketing e divulgação da modalidade, junto dos meios de comunicação social. É fundamental dar a conhecer a modalidade à população portuguesa à semelhança, do que aconteceu com o râguebi, por exemplo. Por outro lado, sendo o badminton uma das modalidades com mais receptivade junto das crianças e jovens na escola, é necessário fazer as pontes entre as aulas de Educação Física e o Desporto Escolar e entre o Desporto Escolar e o Desporto Federado.

FG - O sistema competitivo que a FPB tem a funcionar tem provocado muitas opiniões contraditórias. Será, ou não, necessário efectuar algumas alterações para que o Badminton Nacional não retroceda e dentro de algum tempo siga por caminhos pouco interessantes?RS – Penso que a criação dos Torneios Zonais, como apuramento para a Fase Nacional foi uma alteração interessante, mas que necessita de ser afinada. Com a existência de tantos Torneios Zonais e Nacionais dos vários escalões, o calendário acaba por estar muito sobrecarregado e quase não sobra espaço, para as associações desenvolverem os seus próprios calendários regionais. Relativamente às competições propriamente ditas, no caso das categorias seniores (Absolutos, C e D) é minha opinião, que a categoria de Absolutos deveria ser mais restrita. Isto permitiria, por exemplo, mudar o sistema de eliminação à primeira derrota, por um sistema de grupos. Ao reduzir o número de atletas e ao mudar o sistema, os melhores jogadores fariam um número mínimo de jogos por torneio mais elevado e jogariam mais vezes uns com os outros, o que consequentemente levaria ao elevar do nível do Badminton Nacional. E é possível fazê-lo praticamente sem aumentar o número total de jogos de um torneio. Estas são as duas grandes alterações, que penso ser urgente fazer para evitar a estagnação do Badminton em Portugal. Existem certamente outras, mas esse debate seria bastante demorado.

FG - Conhecendo-se a vocação para trabalhar com jovens, porque ainda não é treinador de Badminton?
RS – Efectivamente, apesar de possuidor da cédula de treinador, não estou à frente de nenhuma equipa de Badminton. Neste momento a minha vida profissional não me liberta muito tempo, para poder liderar um grupo de jovens da forma que eu entendo ser a mais correcta. No entanto, sempre que posso tento ajudar, nos treinos do clube que represento, o Clube de Albergaria. Também nos torneios de seniores procuro auxiliar os meus colegas, enquanto não estou a jogar. Por outro lado, tenho colaborado e dirigido estágios organizados pela Associação Regional de Badminton de Aveiro, nas interrupções lectivas dos atletas não seniores.
 
Trabalho da responsabilidade do Prof. Fernando Gouveia.

 
 

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